Ter uma identidade digital para chamar de sua. Com o avanço no desenvolvimento de recursos gráficos e tecnológicos, os avatares estão cada vez mais elaborados e personalizados. Tanto que muitos famosos e influenciadores já criaram sua versão virtual e estão aproveitando a nova tendência para expandir a sua rede de seguidores também no metaverso.
Claro que esse movimento já foi notado por muitas marcas. Diante dessa oportunidade de crescimento e de transformação na maneira de se comunicar e interagir com clientes e fornecedores, as empresas têm novos desafios pela frente. Tanto de visualizar as experiências possíveis nesse outro ambiente, com dinâmicas diferentes que vão além dos modelos tradicionais de serviços, como de garantir que haja segurança, transparência e ética nas relações estabelecidas virtualmente.
Pesquisa global feita com mais de 11 mil consumidores em 16 países aponta que ao menos 55% dos entrevistados concordam que suas vidas e meios de subsistência estão migrando para espaços digitais. Realizado pela Accenture, o estudo também mostra que 72% dos executivos acreditam que o metaverso terá um impacto positivo em suas organizações, enquanto 45% apostam que essas mudanças serão extremamente transformadoras.
Nike, Itaú, Fortnite, Stela Artois e Lojas Renner são alguns exemplos de empresas que já atuam no metaverso. Em maio deste ano tive o prazer de realizar minha primeira palestra na plataforma, para comemorar o dia mundial da Propriedade Intelectual. São diversas as possibilidades e vantagens de mercado, mas apesar da grande expectativa no seu potencial revolucionário, quanto mais se aproximar da realidade, mais é preciso ter regulamentações que garantam um ambiente seguro, com medidas de proteção e preservação da identidade e integridade dos envolvidos.
Pelas diferentes experiências e o que já foi aprendido na era da Web 1.0 e Web 2.0, o melhor caminho a seguir é o da autorregulação, com a elaboração de um Código de Ética e de regras aplicáveis a esse ambiente e a todos os seus usuários. Como um Tratado Internacional, um código de conduta do ponto de vista de comércio, das tratativas das relações, do uso da moeda, e das trocas relacionadas aos bens e comportamento.
Um dos grandes desafios do metaverso é sobre como lidar com conceitos que já estão estabelecidos no mundo real, como a soberania e a territorialidade, além de delimitar quais leis seriam aplicáveis. Todas as regras e vigilâncias devem ser revistas pelas autoridades, que precisam avançar para acompanhar as mudanças tecnológicas que impactam o comportamento social. Por exemplo: como lidar com má-conduta de avatares que possuam um imóvel no metaverso? Não será mais simplesmente com suspensão ou bloqueio do perfil (banimento).
Somente após denúncias de abuso sexual dentro da plataforma Horizon, o Meta anunciou a criação do recurso chamado Personal Boundary, para impedir que usuários se aproximem de outros de forma indesejada, com uma distância mínima de 1,20 metros. O ambiente digital é um reflexo do real. Dessa maneira, é importante levar em conta as origens para tantos assédios e reações violentas.
Como estamos lidando com os problemas estruturais que resultam na reprodução de comportamentos nocivos? De que forma pretendemos mudar isso? Por meio de leis ou com campanhas para educar os humanos? Ou ainda, usando computação, como já dizia Lawrence Lessig “vamos programar as regras no software”.
São aspectos primordiais e que devem estar entre as preocupações do compliance digital. A possibilidade de práticas ilegais ou antiéticas precisa ser enfrentada, a partir da compreensão das possibilidades da nova tecnologia e da identificação dos riscos existentes. Só assim para estabelecer uma política de uso e um código de conduta que sejam eficazes para garantir uma cultura de integridade em todos os ambientes da organização, inclusive que alcance a postura de avatares nos metaversos.
Por Patricia Peck, sócia-fundadora do Peck Advogados e professora de Direito Digital da ESPM.
Fonte: Meio e Mensagem