Peck Advogados

Muitas empresas que adotaram o home office na pandemia de covid migraram para regimes híbridos ou até mesmo voltaram ao modo presencial após o arrefecimento da crise de saúde global. Com isso, trabalhadores voltaram a se deslocar pelas cidades para trabalhar. Se, durante períodos de lockdown, até os maiores centros urbanos tinham as ruas vazias, hoje a realidade já é bem diferente. 

Com isso, fica a pergunta: o home office foi uma oportunidade perdida para reduzirmos as nossas emissões de carbono? Para especialistas, a resposta não é tão simples.

Pedro Cortez, professor titular do Instituto de Energia e Ambiente da USP, entende que o home office ajudou a reduzir as emissões principalmente por ter diminuído os deslocamentos por meio de veículos nas cidades.

“Nos meses iniciais do lockdown, houve uma redução significativa do trânsito, as cidades estavam muito mais vazias e isso fez com que a qualidade do ar melhorasse de maneira extremamente significativa”, diz.

Mas, mesmo que algumas pessoas permaneçam em casa trabalhando, a movimentação nas cidades já alcançou patamares parecidos com os observados antes de 2020.

“O home office ficou apenas para algumas funções mais específicas. A dinâmica urbana, hoje, se assemelha ao período pré-pandemia”.

Empresas não devem ser poupadas

Com o funcionário em casa, as empresas podem até se tornar aparentemente mais sustentáveis, com prédios reduzidos, consumo menor de energia, menos viagens e sem causar deslocamentos urbanos, mas isso não quer dizer que a pegada ambiental deixou de existir. 

Portanto, os impactos que acabam sendo transferidos para os lares devem continuar sendo colocados na conta das companhias, defende o professor e coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, André Carvalho.

Ele acredita que a redução das emissões de carbono graças ao home office, no geral, é um mito. “É preciso considerar a redução do deslocamento, mas também é preciso entender o aumento do consumo de energia dentro de casa”, afirmou.

Muitas das empresas que estão adotando regimes híbridos estão encolhendo seus espaços físicos em prédios corporativos. Isso reduz também o consumo de energia, mas, na prática, o gasto dos domicílios dos trabalhadores continua a pesar nas emissões de carbono.

“De um lado, você tem a redução da demanda por estrutura em prédios corporativos, diminuição das emissões de transportes e a redução do consumo de energia nos locais de trabalho. Mas ao mesmo tempo, o aumento da demanda por horas de videoconferências, por exemplo, também representa um impacto”.

Empresas estão olhando para outras alternativas

Mesmo que o home office possa agora parecer um passado distante para alguns setores, isso não quer dizer que as companhias não estejam mais focadas em tornar suas emissões mais sustentáveis.

Grandes empresas têm buscado adotar os princípios ESG (do inglês ambiental, social e governança) em diversas políticas internas e estão, inclusive, incorporando a sigla no mercado de títulos de dívida.

Os chamados “títulos sustentáveis” são investimentos que corporações vendem tanto a pessoas físicas quanto a pessoas jurídicas, como fundos, para levantar dinheiro e financiar suas operações internas. 

Um levantamento realizado pela consultoria NINT (ex-Sitawi) mostra que, desde 2020, o mercado brasileiro já emitiu mais de US$ 30 bilhões em papéis atrelados à projetos de sustentabilidade encabeçados pelas companhias.

“As empresas partem do entendimento que não basta atender o interesse de seus acionistas, dos seus controladores, e que as corporações possuem papel social muito relevante”, pontua Cortez, da USP.

O professor também afirma que muitas companhias estão readequando seus padrões de consumo pois estão preocupadas com o custo da energia elétrica.

A partir disso, as empresas reduzem emissões de carbono e consumo de energia melhorando os sistemas de ar condicionado, com aparelhos mais modernos, ou adotando sistemas mais eficientes de iluminação nos escritórios. 

Também há o fato que muitos funcionários se sentiram mais motivados trabalhando de casa, o que tornou-se um ativo à parte para atrair bons profissionais. Oferecer mais vagas de home office, portanto, não deixa de ser ambiental e também uma boa prática social.

Diversas pesquisas têm demonstrado que a realização de um trabalho remoto oferece maior equilíbrio entre a vida privada e a profissional dos empregados, permitindo, principalmente, que estes consigam realizar mais facilmente tarefas que, antes, eram impossíveis em razão do tráfego pesado de veículos nas capitais e grandes cidades”, argumenta Rosana Muknicka, gestora trabalhista do Peck Advogados.

Por Rosana Pilon Muknicka, Gestora Trabalhista do Peck Advogados.

Fonte: Terra

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